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    From =?UTF-8?Q?Magn=C3=ADfico_Estadista_@21:1/5 to All on Sun Nov 13 06:25:39 2022
    "UM JUSTO ENTRE AS NAÇÕES

    Leonardo Boff_ - 03.11.2022

    - Conheço um homem, há mais de 40 anos. De onde ele veio? Veio da senzala existencial. É um nordestino, desdenhado pela elite do atraso, que possui em seu DNA um covarde desprezo pelos pobres. É um filho da pobreza. Um sobrevivente da fome. Um pau-
    de-arara que, saído do agreste pernambucano, foi radicar-se com a mãe e os irmãos na periferia de São Paulo.
    - Toda a numerosa família vivia num puxadinho de um bar. Mas havia uma mãe que cumpria todas as funções de pai, de mãe, de educadora, de conselheira e de exemplo, dona LINDU. Soube educar toda a prole. A este homem lhe inculcou na cabeça e no coraç
    ão: "Nunca desista. Nunca roube. Nunca minta".
    - Esse imperativo ético marcou toda sua vida. Quando menino, trabalhando num pequeno mercado, morria de desejo de roubar um chiclete americano. Não havia o nacional. Mas quando estendia a mão, lembrava de dona Lindu: Não roubou o chiclete. Como
    sempre se conteve.
    - Conheço um homem, este homem. Por um bom tempo foi totalmente despolitizado. O que lhe interessava era o futebol e o time de estimação, o Corinthians. Conseguiu fazer um curso de metalúrgico. Aprendeu por experiência, sem nada conhecer de Marx, o
    que era a plusvalia. No começo, com a pouca experiência inicial, produziu tal e tal produto. Foi melhorando a ponto de, com mais destreza e rapidez, produzir mais e mais do mesmo produto. Mas o salário continuava o mesmo. Para quem ia o lucro do
    excedente de sua produção? Não para ele, mas para o patrão. Nisso reside a mais-valia e o mecanismo de acumulação do empresário. Despertou para a injustiça feita aos trabalhadores. Tornou-se líder sindical. Enfrentou a ditadura militar. Foi
    preso. Solto, liberou a águia que escondia dentro de si. Emergiu seu carisma de líder. Sabia, com honestidade, negociar com os patrões na lógica do ganha-ganha.
    - E pensou: os poderosos governaram por todo o tempo de nossa história. Governaram só para eles. Nunca nos incluíram. Éramos carvão a ser queimado na produção de suas fábricas. Por que nós, trabalhadores que somos maioria, não podemos também
    governar o nosso país e governar até melhor, para todos, a começar pelos mais explorados e marginalizados?
    - Foi então que junto com outros fundou o Partido dos Trabalhadores (PT). Candidatou-se para governador e para presidente do país. Sempre perdeu. Mas nunca renunciou ao impulso interior, inspirado por sua mãe: nuca desista. Insistia em suas intervenç
    es: devemos permitir que todos possam comer pelo menos três vezes ao dia, ter sua casinha com luz elétrica, poder se educar e mandar seus filhos e filhas para escolas de qualidade. Ter alegria de viver e de conviver.
    - E quis o Mistério de todas as coisas, que ele, do andar debaixo, da marginalização e da exclusão chegasse ao poder central do País. Pela primeira vez em nossa história, um condenado da Terra, organizou, como presidente, uma política em que todos
    ganharam, inclusive os endinheirados, mas sobretudo aqueles que há dezenas de anos estavam no mapa da fome. Não se ouviam mais os gritos caninos das crianças puxando a saia de suas mães, pedindo comida que lhes faltava. Milhões foram incluídos na
    sociedade, milhares de pobres e de afrodescendentes, mediante cotas, puderam frequentar os cursos superiores. Indígenas, quilombolas, mulheres e outros de outra opção sexual encontraram nele compreensão e defesa. Mais que matar a fome, devolveu-lhes
    dignidade humana.
    -Mas, alguém se levanta, com arrogância, e anuncia: ”Deus me escolheu para salvar o país; está inscrito até no meu nome Messias”. O outro apenas diz: ”Agradeço a Deus por ter permitido que eu chegasse até aqui e poder dar comida a milhões
    de pessoas”. Os discursos possuem tons diferentes: um coloca a ênfases num alegado chamamento divino, independentemente de seu esforço. O outro, lutou e se esforçou para cumprir esse propósito. E agradece a Deus, depois de muita luta e incansá
    veis sacrifícios.
    - O mundo, a tudo acompanhou. Como presidente, os chefes de estado disputavam ouvir suas experiências e conselhos. Emergiu como uma das maiores lideranças mundiais. Convidado a apoiar a guerra contra o Iraque, respondeu sabiamente: minha guerra não é
    contra um povo, é contra a fome e a miséria de milhões do meu país e da humanidade.
    - Tudo o que é sádio pode ficar doente. Setores de seu governos foram acometidos pela doença da corrupção. Foram denunciados e punidos. Mas jamais se provou que este homem tirou algum proveito pessoal da corrupção em razão de sua condição de
    presidente.
    - Se há algo que o irrita profundamente é quando o chamam de ladrão. Onde está sua mansão? Onde estão suas contas bancárias no Brasil, no exterior ou em algum paraíso fiscal? Alguém pode apontá-lo sem mentir? Como candidato, sua vida foi
    vasculhada nos mínimos detalhes. Nada se encontrou. Nem um apartamento, no qual nunca morou, nem um sítio de um amigo, que nunca lhe pertenceu. Vive num apartamento como qualquer cidadão que ocupou o cargo que ocupou. Bom mas modesto.
    - Conheço e testemunho a transparência, a honestidade e a inteireza deste homem. Disse-me algumas vezes: você que fala a numerosos auditórios diga, em meu nome: jamais dei cinquenta centavos a alguém, jamais recebi cinquenta centavos de alguém.
    Nunca me apropriei de nada de ninguém. E se esse acusador continua a afirmar que sou ladrão, diga que é mentiroso. E se persistir a afirmá-lo, desafie-o a ir à justiça, mostrar as provas para o acusar de ladrão. Confirmado, se fui pessoalmente
    ladrão, aceitarei o rigor da Lei. Devolverei em dobro tudo o que falsamente teria roubado. Quero ser preso.
    - Conheço um homem que suportou todo tipo de calúnia, de difamação e de humilhação. Sua esposa morreu de tristeza. Seu neto que faleceu precocemente,... criaram-lhe mil dificuldades para se despedir de seu ente querido. Quando partiu desse mundo, o
    irmão mais velho, o tinha como pai, levaram-no apenas para um curto velório, cercado de soldados armados como se conduzissem um perigoso celerado.
    - Invadiram sua casa sem prévio aviso. Vasculharam tudo, inclusive os colchões. Levaram até os brinquedos dos netos, que até hoje não foram devolvidos. Por fim, um juiz, reconhecido pela Suprema Corte (STF) como parcial e que em razão disso,
    posteriormente os processos movidos contra ele foram invalidados. O juiz corrupto e parcial o condenou ”por um crime indeterminado” coisa que não se encontra em nenhum Código Penal, nem do ancestral de Hamurabi, alguns milênios antes de nossa era.
    Por 580 dias, foi mantido preso sob rigorosa vigilância. Podia ter resistido ou se refugiado em alguma embaixada. Não. Ficou junto de seu povo. Na prisão revisou sua vida, os acertos e equívocos de seu governo, estudou em profundidade os aspectos
    principais de nosso país e da geopolítica mundial. Espiritualizou-se e saiu cheio de humanismo, de esperança e de determinação de trabalhar especialmente pelos pobres.
    - Mas sua prisão teve uma consequência perversa: abriu caminho para presidente. Uma figura sinistra, inimiga da vida e de seu povo, movida pela pulsão de morte e de ódio surgiu para ser o presidente. Seu negacionismo e sua total ausência de empatia
    permitiu, impassível, a morte de pelo menos de 700 mil pessoas pelo Coronavírus.
    Veio nova eleição. Seu adversário que excede em ignorância, brutalidade e com uma mente assassina usou todos os meios possíveis e impossíveis para derrotá-lo, desde a corrupção de um bilionário orçamento secreto até todo o aparelho de Estado,
    dentro do qual funcionava “o gabinete do ódio”. Este difundia mentiras, Fake News, calúnias e obscenidades contra ele. Até o aparato policial do Estado foi acionado em favor de sua candidatura. Mas tudo foi em vão!
    - Venceu a sensatez contra a irracionalidade, a verdade contra a mentira, o amor contra o ódio. FOI proclamado presidente do País. Foi reconhecido pelas mais altas autoridades do país, do mundo, desde Xi Jinping, Biden a Putin. Mesmo sem ser empossado,
    já foi convidado para a COP27 no Egito para discutir o novo regime climático e para Davos, onde os senhores das fortunas se reúnem para ouvir seu tipo de economia, já que a presente está agônica.
    - Conheço este homem, carismático, cordial, incapaz de ter ódio no coração e pronto a dialogar com todos. De sua boca, ouvimos, e de seu exemplo, aprendemos que importa sempre defender a democracia, dar centralidade aos pobres, defender a Amazônia
    contra a voracidade do capital selvagem e buscar um mundo que seja bom para todos e que será. Como disse um presidente: “O mundo tem saudades deste homem”.
    - Ele merece a maior comenda que a tradição bíblico-judaica dá a um benemérito cidadão do mundo: ELE É UM JUSTO ENTRE AS NAÇÕES.
    - Eu conheço e testemunho um homem que por sua vida, por seu exemplo e pelo cuidado de seu povo, tornou-se efetivamente um Justo entre as Nações.
    - Seu nome não precisa ser citado. O pais o conhece. O mundo o reconhece."

    Leonardo Boff_, ecoteólogo, filósofo,ex-professor de ética e membro da Iniciativa Internacional da Carta da Terra

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