Muitos dos nossos estabelecimentos de ensino dos diferentes níveis
educativos têm por costume organizar nas datas prévias ao «Ciclo do
Natal», atividades educativo-didáticas para celebrar a festa do Natal, enquadrada no ciclo anual das festas populares galegas, que normalmente
abrange desde 24 de dezembro até 6 de janeiro.
Seja no hemisfério norte, que nessa época do ano está no inverno, seja
no sul, que nessa época está em pleno verão, o Natal é sempre
comemorado nos países de religião cristã, ou por comunidades desta
religião em países que têm como maioritária outra cultura religiosa,
como é o caso de Índia.
É uma época de festas, de troca de presentes, de ceias com comidas tradicionais. As ruas, as casas, as lojas enfeitam-se com os símbolos
desse período: a árvore de natal, as coroas de Natal, as bolas
multicoloridas e as canções tradicionais. O clima é de festa, embora
nos últimos tempos passasse a ser excessivamente comercial, com a perda
do seu sentido original. O Natal é a festa cristã mais popular, a que
mais envolve as pessoas, as famílias e sobretudo a criançada. É a festa
em que se comemora o nascimento de Jesus, segundo a fé cristã. Há,
porém, uma série de questões importantes que até hoje causam
controvérsias sobre a data de nascimento de Jesus, o dia 25 de
dezembro. De facto, não há registros de comemorações da natividade de Cristo entre os primeiros cristãos. Esse facto seria justificado pela ausência de menções, nos textos do Novo Testamento, de uma data alusiva
ao nascimento de Jesus. Além disso, o cristianismo dos primeiros
séculos lembrava não o nascimento de seus santos e mártires, mas sim a
sua morte, o dia em que tinham deixado essa vida para viver no céu
entre os eleitos. Comemorar a morte e não o nascimento de seus santos
foi a tradição que se estabeleceu entre os cristãos, principalmente
entre os católicos. Segundo os registros históricos, a festa do
nascimento de Jesus só veio aparecer por volta do quarto século do cristianismo.
Origem da data de Natal: Até o século IV os cristãos eram perseguidos
pelo governo romano e pelos pagãos. Porém, no século IV, o imperador
romano Constantino converteu-se ao cristianismo, transformando-o na
religião do Império. Assim, o mundo romano começou a aceitar e
incentivar a adoção da religião cristã, popularizando-a. Como muitas tradições e festas pagãs estavam arraigadas na cultura romana, era necessário dar a elas um novo significado. No hemisfério norte, o
solstício de inverno se dá por volta do dia 21 de dezembro. Esse é o
dia mais curto do ano em relação à noite. A partir daí, a duração dos dias começa a aumentar até o mês de julho, quando ocorre o dia mais
longo do ano. No dia 25 de dezembro, comemorava-se o nascimento do Sol, pois sua permanência no firmamento só tenderia a crescer desta data em diante. A Igreja não possuía nenhum documento em que pudesse se basear
para afirmar a data em que Jesus nasceu. Assim - de acordo com uma das
teorias para a escolha do dia 25 de dezembro -, a Igreja fez coincidir
o dia do nascimento de Jesus com o do culto pagão ao nascimento do Sol.
Essa data, então, propagou entre os fiéis a ideia de que o Filho de
Deus era a luz que se acendia para iluminar o Universo. Segundo algumas
fontes, no ano de 353, o papa Libério determinou em Roma que a
celebração do Natal deveria se dar no dia 25 de dezembro. A data
não foi adotada imediatamente em todo o mundo. No Egito, só foi adotada
a partir de 432; em Jerusalém, a partir do século VI; e ainda hoje os monofisistas armênios mantêm o 6 de janeiro como a data de nascimento
de Jesus. O monofisismo é uma doutrina que não aceita a definição
ortodoxa da Igreja, segundo a qual Jesus tinha duas naturezas: a humana
e a divina. O monofisismo reconhece apenas a natureza divina de Jesus.
Foi condenada no Concílio de Calcedônia, em 451. Atualmente é
representado pela igreja Jacobita, da Síria, pela igreja Armênia e pela Copta, no Egito e na Etiópia.
Sobre a origem do presépio: Segundo os relatos evangélicos, quando
Jesus nasceu os pastores estavam no campo guardando seus rebanhos,
durante a noite. Se considerarmos esse relato verdadeiro, Jesus não
poderia ter nascido em dezembro. Isso porque, na Judeia, os pastores
retiravam as ovelhas do campo em outubro, para protegê-las da chuva e
do frio do inverno. Só retornavam no início da primavera, em abril ou
maio. É verdade também que os dous evangelistas, Lucas e Mateus, responsáveis pelos relatos sobre o nascimento de Jesus não presenciaram
as cenas que descrevem a sagrada família na manjedoura. Estudiosos dos Evangelhos observam que falar do nascimento do Filho de Deus, de sua
origem e das condições em que nasceu era importante para fortalecer a
fé das primeiras comunidades cristãs. Afinal, o Filho de Deus, como
qualquer ser humano, havia nascido de uma mulher. Como uma grande
personagem, tinha uma origem importante: descendia de David, um rei
judeu sábio e famoso; e por falta de lugar nas hospedarias de Belém,
José e Maria tinham-se abrigado em um estábulo, onde seu filho nasceu.
Em 1223, um fato deu novo impulso à conceção do nascimento de Jesus:
São Francisco de Assis organizou pela primeira vez a reconstituição da natividade de Cristo conforme a descrição contida nos evangelhos. Na
igreja de Greccio, reproduziu o estábulo com a manjedoura onde Maria
depositou seu filho. E como não poderia deixar de fazer, São Francisco colocou o boi e o burro ao lado do Menino Jesus, pois o Natal deveria
ser a ocasião para todos se alegrarem. A partir daí, estabeleceu-se o
costume popular de montar o presépio durante o período das festividades natalinas. Com o passar do tempo, os povos foram incorporando outras manifestações para festejar o nascimento do Menino Jesus. No Brasil,
por herança dos evangelizadores e colonizadores, as pastorinhas e os
reisados que, a cada ano, promovem danças e festas populares.
Os presentes de Natal: Também segundo os Evangelhos, três reis magos, reconhecendo que Jesus havia nascido, foram até Belém levar-lhe
oferendas, em sinal de reverência. Essa é uma das explicações que se costuma dar para um dos costumes mais tradicionais do Natal: a troca de presentes. Associada a esse hábito está a figura do Papai Noel: um
velhinho bom que distribui presentes para as crianças. Este é um dos símbolos mais característicos das festividades natalinas, uma adaptação
da figura de são Nicolau, sobre o qual correm muitas lendas. Sabe-se,
no entanto, que ele viveu no século V e foi bispo de Mira. Conta-se que ele tinha o costume de, no dia 6 de dezembro, dar presentes às escondidas para crianças pobres e pessoas necessitadas. Segundo essa
versão, vem daí o hábito de esconder os presentes, sobretudo das crianças.
Um dos mais formosos livros sobre um tema de Natal foi escrito por
Charles Dickens, e publicado em 1843 em Londres. Teve um enorme sucesso
e muitas edições, ademais de numerosas versões a outros idiomas do
mundo. Como é natural, também foi levado ao cinema por muitos
realizadores, tendo a sua primeira versão cinematográfica em 1901, e
muitas em desenhos animados. Sob o título original em inglês de A
Chritsmas Carol, existem traduções com os títulos de Canção de Natal, Conto de Natal, Cântico de Natal, e mesmo poderia intitular-se
Panjolinha do Natal. Da ampla filmografia existente baseada neste
livro, escolhi aqueles filmes mais importantes em que intervêm atores,
mas não filmes de desenhos animados ou musicais.
FICHAS TÉCNICAS DOS FILMES:
Um conto de Natal (A Chritsmas Carol).
Diretor: Edwin L. Mann (EUA, 1938, 69 min., p. e b.). Produtoras:
MGM e Loew´s.
Roteiro: Hugo Butler, segundo o livro de Charles Dickens.
Fotografia: Sidney Wagner e John F. Seitz. Música: Franz Waxman.
Atores: Reginald Owen (Ebenezer Scrooge), Gene Lockhart (Bob Cratchit), Kathleen Lockhart (Sra Cratchit), Terry Kilburn (Pequeno Tim Cratchit),
Barry Mackay (sobrinho de Scrooge), Ann Rutherford (espírito do Natal
do passado), Ronald Sinclair (jovem Scrooge), Lionel Braham (espírito
do Natal do presente), D´Arcy Corrigan (espírito do Natal do futuro) e
outros muitos, dentro dum reparto muito amplo.
Argumento: Ebenezer Scrooge é um homem avarento que não gosta do Natal. Trabalha num escritório em Londres com Bob Cratchit, seu pobre, mas
feliz empregado, pai de quatro filhos, com um carinho especial pelo
frágil Pequeno Tim, que tem problemas nas pernas. Numa véspera de Natal Scrooge recebe a visita de seu ex-sócio Jacob Marley, morto havia sete
anos naquele mesmo dia. Marley diz que seu espírito não pode ter paz,
já que não foi bom nem generoso em vida, mas que Scrooge tem uma
chance, e por isso três espíritos o visitariam.
Contos de Natal (Scrooge / A Chritsmas Carol).
Diretor: Brian Desmond Hurst (Reino Unido, 1951, 86 min., p. e b.). Produtora: George Minter Prod.
Roteiro: Noel Langley, segundo o livro de Charles Dickens.
Fotografia: C. M. Pennington-Richards. Música: Richard Addinsell.
Atores: Alastair Sim (Ebenezer Scrooge), Kathleen Harrison (Sra.
Dilber), Mervyn Johns (Bob Cratchit), Hermione Baddeley (Sra.
Cratchit), Michael Hordem (Jacob Marley), George Cole (Ebenezer
Scrooge), John Charlesworth (Peter Cratchit), Francis De Wolff
(espírito do Natal do presente), Rona Anderson (Alice), Carol Marsh
(Fan Scrooge), Brian Worth (Fred), Miles Malleson (velho Joe), Glyn
Dearman (Tiny Tim), Michael Dolan (espírito do Natal do passado), Olga Edwardes (esposa de Fred), Roddy Hughes (Fezziwig), Hattie Jacques
(Sra. Fezziwig), Eleanor Summerfield (Miss Flora), Louise Hampton
(Laundress), Czeslaw Konarski (espírito do Natal do futuro), Eliot
Makehan (Sr. Snedrig) e outros.
Argumento: O avaro Ebenezer Scrooge sente animadversão pelo Natal e por
tudo o relacionado com estas festas. Um dia recebe em sua casa a
inesperada visita dum fantasma. Trata-se de seu amigo Jacob Marley que
lhe anuncia qual vai ser seu futuro e, ademais adverte-lhe da visita de
três fantasmas mais: o do Passado há de lembrar-lhe com nostalgia a sua infância e juventude, o do Presente amostrar-lhe-á como seu empregado
Bob Cratchit, embora sendo pobre, pode celebrar com alegria o Natal, e
o sombrio fantasma do Futuro ensinar-lhe-á como terminam os avaros como
ele.
Um conto de Natal (A Chritsmas Carol).
Diretor: Clive Donner (Reino Unido, 1984, 100 min., cor, para TV).
Roteiro: Roger O. Hirson, segundo o livro de Charles Dickens.
Fotografia: Tony Imi. Música: Nick Bicât. Prodª: Co-Prod. RU-EUA, Entertainment Partners Ltd.
Atores: George C. Scott (Ebenezer Scrooge), Frank Finlay (Jacob Marley), Angela Pleasence (fantasma do Natal passado), Edward Woodward (fantasma do Natal presente), Michael Carter (fantasma do Natal future), David Warner (Bob Cratchit), Susannah York (Sra.
Cratchit), Roger Rees (Fred, o narrador), Anthony Walters (Tiny Tim), Caroline Langrishe (Janet Holiwell), Lucy Gutteridge (Belle) e
outros.
Argumento: Ebenezer Scrooge é um homem mesquinho e desalmado. O dia de
Natal apresentam-se em sua casa os fantasmas do Natal passado, presente
e futuro, que o obrigam a contemplar não só os erros que cometeu, como
as consequências que a sua conduta vai ter no futuro. Essa visão muda o coração do velho Scrooge que vai tentar reparar todo o mal que fez
antes de que seja demasiado tarde. O filme é uma adaptação do famoso
conto de Dickens para a TV.
Uma panjolinha do Natal / Conto de Natal (A Chritsmas Carol).
Diretor: David Hugh Jones (EUA, 1999, 95 min., cor, para TV). Produtora: Hallmark Entertainment.
Roteiro: Peter Barnes, segundo o livro de Charles Dickens.
Fotografia: Ian Wilson. Música: Stephen Warbeck.
Atores: Patrick Stewart (Ebenezer Scrooge), Richard E. Grant (Bob Cratchit), Joel Grey (Pantasma do Natal passado), Ian McNeice (Mr.
Albert Fezziwig, Saskia Reeves (Sra. Cratchit), Desmond Barrit, Bernard Lloyd, Dominic West (Fred), Trevor Peacock, Liz Smith, Elizabeth Spriggs, Kenny Doughty e Laura Fraser (Belle).
Argumento: Adaptação televisiva do clássico conto de Dickens. Durante
um Natal, Ebenezer Scrooge, um miserável e mal-humorado ancião que não
sente compaixão por nada nem por ninguém, recebe a visita de espíritos
do passado, do presente e do futuro que pretendem comover seu coração
para salvar a sua alma.
Nota: Sem contar as versões musicais e de desenhos animados que existem
deste conto, foram realizados outros filmes que resenhamos a seguir:
Scrooge or Marley´s ghost (Diretor: Walter R. Booth, 1901); A Chritsmas
Carol (versão muda de 1910); A Chritsmas Carol (Hugh Croise, 1928, 1ª
versão falada); Leyenda de Navidad (Lenda de Natal), versão espanhola
de 1947 dirigida por Manuel Tamayo; Los fantasmas atacan al jefe ou Los fantasmas contratacam (Scrooge, 1988, com Bill Murray de protagonista);
A Chritsmas Carol (última versão, de 2009, dirigida por Robert
Zemeckisy).
?VERDADEIRO SENTIDO DA FESTA POPULAR DO NATAL:
A influência do Cristianismo na modificação - e mesmo apropriação - das festas populares do ciclo anual, agás a do entruido, da qual nunca
gostou, foi muito importante. Desde a pré-história, especialmente no
seu período do neolítico, os seres humanos vinham celebrando
festividades de homenagem à natureza e aos astros, a maioria
coincidentes com os equinócios e os solstícios, que chegaram a
configurar o famoso ciclo anual, seguindo o processo e o devir do
tempo, das estações e da natureza. No livro em três volumes coordenado
por Otero Pedraio, História de Galiza, publicado em B. Aires por Nós em
1962, Vicente Risco analisa acertadamente os elementos essenciais das diferentes festas.
José Manuel Barbosa, da AGAL e da AGLP, no seu interessante blogue
«Desperta do teu sono», sob o título de «Sobrevivência da roda das festividades pagãs na Galiza», analisa muito bem o ciclo anual das
festas, tomando como base o mencionado por Risco e outros autores. Do
seu trabalho tiramos importantes treitos, com que coincidimos
totalmente. Barbosa diz: «Nas culturas agrárias a celebração das
estações era o normal, recebendo e santificando os ciclos naturais, a produtividade da terra e a mudança de atividades segundo a época.
Igualmente o agradecimento à terra mãe e produtora fazia parte da vida quotidiana como uma forma de estar em harmonia com o que fornecia de
alimentos e prosperidade à comunidade. Esta festividade conhecida por
alguns povos da Europa como «Yule» não era alheia ao mundo celta e por consequente à Galiza. A celebração do nascimento da principal figura do Cristianismo liga diretamente com a tradição proto-europeia do
nascimento do Sol e com toda uma série de rituais que tanto no tempo
antigo como no atual reconhecemos com uma identidade comum que
transcende os tempos. Assim, tanto a árvore de Natal, como as
«Estreias» ou «Aguinaldo» (assim chamado em outros lugares da
península), a recolha do visco ou do azevinho, como da figura paternal
dum homem generoso e barrigudo, que vem para fazer presentes aos
meninos, são herança dum passado nunca esquecido». A continuação
explica Barbosa que a árvore de Natal é uma tradição bastante moderna,
mas que em alguns lugares galegos e ourensanos existia a tradição
familiar do denominado «Tição de Natal». Abundando sobre a árvore
comenta o mito celta da árvore da vida, protagonista de muitas das celebrações e tradições da roda das estações dentro da cultura europeia em geral e céltica em especial. Nas comarcas de Rodeiro e o Arenteiro,
Barbosa sinala que ainda continua o simbolismo de que no inverno as
ponlas da árvore são as raízes, ao não ter folhas, e que na primavera voltam para a terra para que saiam as flores e os frutos.
No importante blogue de Barbosa, que merece a pena ser lido na sua
totalidade, continua a dizer-nos: «Outra tradição interessante ainda conservada até muito pouco tempo na Galiza rural é a das «Estreias»,
nome que em outros lugares da península muda pelo de «aguinaldo». A sua origem pode ser comum com o famoso «Trick or Treat» da tradição
samânica, pelo facto de ir pedindo pelas portas um presente». (...)
Outra das práticas das que queremos fazer referência têm a ver com o
visco (Viscum Album), e o azevinho (Ilex Canariensis). (...) Mas não
podemos esquecer uma outra tradição que é a figura dum personagem que tradicionalmente vive na floresta e que por essas datas é que se achega
às aldeias para trazer presentes às crianças. Esta figura parece ser
comum a toda a cultura europeia conhecido como São Nicolau, Santa Klaus
e mais modernamente como Pai Natal, popularizado pela influência norte-americana. Na Galiza esta personagem aparece com o nome de
«Apalpador» ou «Pandigueiro». Ele é um carvoeiro ou lenhador que habita
na espessura da floresta ao lado dos seus perelhos, seres feéricos que
o ajudam no seu labor. Um destes perelhos sempre é o que se adianta
para levar conta dos nenos que merecem o presente para quando vier o
velho e barbudo personagem poder acertar à hora de presentear. Quando
ele chegar sempre o faz quando as crianças dormem para poder apalpar as
suas barriguinhas e saber se comeram ou não. No caso de estarem mal alimentados ele deixa uma presa de castanhas ao lado».
RECUPERAR A FIGURA DO APALPADOR :
Com autêntico acerto, em 2007, o coletivo «A Gentalha do Pichel», com o apoio posterior da AGAL, recuperou a tradição popular dos tempos do
Natal, do chamado «apalpador» ou «pandigueiro». Previamente, os investigadores José André Lopes Gonçales e Carlos Calvo Varela
resgataram do esquecimento esta figura do Natal propriamente galega, do
qual Barbosa fala no seu blogue. O verinense Jesús Taboada Chivite, nos
seus estudos sobre crenças e ritos galegos, fala da existência do
ritual propiciatório de palpar a barriga das crianças na noite velha,
também chamada por isto «noite do apalpadoiro». O «apalpador»,
conhecido também pelo nome de «pandigueiro» na comarca de Póvoa de
Trives, é, nas zonas orientais da Galiza, a figura mítica dum
carvoeiro, que segundo a tradição, desce as noites de 24 a 31 de
dezembro para apalpar a barriga das crianças para comprovar se comeram suficientemente durante o ano, deixando um montão de castanhas para os
que encontrava fracos e, eventualmente, algum presente, desejando-lhes
que tivessem um ano novo cheio de felicidade e comida. Mesmo existem
alguns cantares dedicados às «noites do apalpadoiro» para avisar os
meninos da chegada do «apalpador» e da necessidade de que se vão para a cama.
Normalmente o «apalpador» era um homem grosso, grande e com barba,
embora não seja nem Santa Klaus nem o Papá Noel (figuras importadas,
que desgraçadamente, sem ser da nossa cultura, terminaram por impor-se
durante bastantes anos). Tampouco tem que ver com os «Reis Magos»,
embora estas figuras e elementos quase mágicos compartilhem um fim
comum, que é o de alegrar os mais pequenos da casa. De alguma maneira,
o «apalpador» é uma figura, que ademais de ser nossa, também cumpre
esse objetivo. Vive na montanha, dedicado a fazer carvão. É como um
gigante, com boina, casaco velho e remendado, alimenta-se de frutos
silvestres, de carne de javarim que caça e fuma em cachimbo. Esta é
mais ou menos a imagem que dele têm os mais velhos das comarcas do
Courel, o Cebreiro, os Ancares e Lôuçara, que lembram as histórias que
seus avós lhes contavam. «A Gentalha do Pichel» publicou sob o título
de Teoria do inverno, um interessante livro em que aparecem testemunhos fantásticas sobre a figura do «apalpador». Uma velha de Ferramulim,
chamada Fina, fala no livro de que na última noite do ano, quando agora
se costuma comer as doze uvas, antes de ir para a cama, as pessoas que
formavam a família, e em especial as crianças, comiam até fartar-se,
porque diziam que, de noite, vinha o «apalpador» e se estavas cheio ou
farto não passarias fame em todo o ano. Vinha a todos, meninos e
meninas, e apalpava as barrigas, deixava castanhas e de alguma maneira
eram «os reis» que tínhamos. A mesma «Gentalha do Pichel» recuperou em perto de 30 gravações, cantares, lendas, contos e narrações, a tradição do «apalpador», «apalpa-barrigas» ou «pandigueiro», nas comarcas orientais da Nossa Terra. As datas da saída desta figura eram 24, 28 e
31 de dezembro (e mesmo em algum caso no entruido). Datas que, segundo
Vicente Risco, se repetem em toda a faixa atlântica, para celebrações natalícias, tendo que ver muito com as celebrações pré-cristãs do solstício de inverno, que é quando o ano termina. Infelizmente, a
figura nalguns lugares degenerou convertendo o «apalpador» no «homem do saco», e mesmo misturando-o com os «reis magos», que deixavam carvão às crianças que se portassem mal durante o ano. Degradando assim, por
desgraça, o mito.
Com acerto, «A Gentalha do Pichel», para recuperar a figura, nos
últimos anos tem organizado a saída do «apalpador» nas datas do Natal
pelas ruas de Compostela, Ferrol, Lugo, Ponte Areias, Silheda e S.
Sadurninho. Com o digno objetivo de que as crianças conheçam esta
tradição propriamente galega, evitar que desapareça, e que os adultos
ajudem a recuperá-la. Recolhida em Romeor do Courel em 1994 existe esta
linda copla: «Vai-te logo meu meninho (a), marcha agora prá caminha.
Que vai vir o Apalpador apalpar-che a barriguinha. Já chegou o dia
grande, dia do nosso Senhor: Já chegou o dia grande, e virá o
Apalpador. Manhã é dia de cachela, que haverá gram nevarada e há vir o Apalpador c´uma mega de castanhas. Por aquela cemba, já vem relumbrando
o senhor Apalpador, para dar-vos o aguinaldo».
TEMAS PARA REFLETIR E REALIZAR:
Servindo-se da técnica do Cinema-fórum, analisar e debater sobre a
forma (linguagem cinematográfica: planos, contraplanos, panorâmicas, movimentos de câmara, jogo com o tempo e o espaço, truques
cinematográficos, etc.) e o fundo dos quatro filmes antes resenhados.
Com colaborações dos estudantes (desenhos, poemas, aforismos, textos
livres, lendas, contos, etc.) organizamos nos estabelecimentos de
ensino uma amostra sobre a festa popular do Natal, a sua história e a
sua origem, recuperando os autênticos símbolos galegos da festa. Na
mesma podemos incluir fotos e resenhas da imprensa. E podemos também
elaborar uma monografia segundo a técnica Freinet da Biblioteca do
Trabalho, para depois policopiá-la. Podemos organizar também um
festival de panjolinhas, recuperando aquelas que são mais galegas, e
também as portuguesas.
Depois de ler todos o Conto de Natal escrito por Dickens e editado na
nossa língua, organizamos sobre ele um Livro-fórum. Podemos tirar
ademais, com um debate-papo, conclusões sobre a festa popular do Natal,
e de como podemos recuperar os seus autênticos elementos e os seus
valores sociais e humanos. Agora que, por desgraça, tão deturpada está,
e tão comercializada.
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Eduardo
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