• UM CONTO PARA CELEBRAR O NATAL

    From JEMM@21:1/5 to All on Sun Dec 25 22:51:28 2016
    Muitos dos nossos estabelecimentos de ensino dos diferentes níveis
    educativos têm por costume organizar nas datas prévias ao «Ciclo do
    Natal», atividades educativo-didáticas para celebrar a festa do Natal, enquadrada no ciclo anual das festas populares galegas, que normalmente
    abrange desde 24 de dezembro até 6 de janeiro.

    Seja no hemisfério norte, que nessa época do ano está no inverno, seja
    no sul, que nessa época está em pleno verão, o Natal é sempre
    comemorado nos países de religião cristã, ou por comunidades desta
    religião em países que têm como maioritária outra cultura religiosa,
    como é o caso de Índia.

    É uma época de festas, de troca de presentes, de ceias com comidas tradicionais. As ruas, as casas, as lojas enfeitam-se com os símbolos
    desse período: a árvore de natal, as coroas de Natal, as bolas
    multicoloridas e as canções tradicionais. O clima é de festa, embora
    nos últimos tempos passasse a ser excessivamente comercial, com a perda
    do seu sentido original. O Natal é a festa cristã mais popular, a que
    mais envolve as pessoas, as famílias e sobretudo a criançada. É a festa
    em que se comemora o nascimento de Jesus, segundo a fé cristã. Há,
    porém, uma série de questões importantes que até hoje causam
    controvérsias sobre a data de nascimento de Jesus, o dia 25 de
    dezembro. De facto, não há registros de comemorações da natividade de Cristo entre os primeiros cristãos. Esse facto seria justificado pela ausência de menções, nos textos do Novo Testamento, de uma data alusiva
    ao nascimento de Jesus. Além disso, o cristianismo dos primeiros
    séculos lembrava não o nascimento de seus santos e mártires, mas sim a
    sua morte, o dia em que tinham deixado essa vida para viver no céu
    entre os eleitos. Comemorar a morte e não o nascimento de seus santos
    foi a tradição que se estabeleceu entre os cristãos, principalmente
    entre os católicos. Segundo os registros históricos, a festa do
    nascimento de Jesus só veio aparecer por volta do quarto século do cristianismo.

    Origem da data de Natal: Até o século IV os cristãos eram perseguidos
    pelo governo romano e pelos pagãos. Porém, no século IV, o imperador
    romano Constantino converteu-se ao cristianismo, transformando-o na
    religião do Império. Assim, o mundo romano começou a aceitar e
    incentivar a adoção da religião cristã, popularizando-a. Como muitas tradições e festas pagãs estavam arraigadas na cultura romana, era necessário dar a elas um novo significado. No hemisfério norte, o
    solstício de inverno se dá por volta do dia 21 de dezembro. Esse é o
    dia mais curto do ano em relação à noite. A partir daí, a duração dos dias começa a aumentar até o mês de julho, quando ocorre o dia mais
    longo do ano. No dia 25 de dezembro, comemorava-se o nascimento do Sol, pois sua permanência no firmamento só tenderia a crescer desta data em diante. A Igreja não possuía nenhum documento em que pudesse se basear
    para afirmar a data em que Jesus nasceu. Assim - de acordo com uma das
    teorias para a escolha do dia 25 de dezembro -, a Igreja fez coincidir
    o dia do nascimento de Jesus com o do culto pagão ao nascimento do Sol.
    Essa data, então, propagou entre os fiéis a ideia de que o Filho de
    Deus era a luz que se acendia para iluminar o Universo. Segundo algumas
    fontes, no ano de 353, o papa Libério determinou em Roma que a
    celebração do Natal deveria se dar no dia 25 de dezembro. A data
    não foi adotada imediatamente em todo o mundo. No Egito, só foi adotada
    a partir de 432; em Jerusalém, a partir do século VI; e ainda hoje os monofisistas armênios mantêm o 6 de janeiro como a data de nascimento
    de Jesus. O monofisismo é uma doutrina que não aceita a definição
    ortodoxa da Igreja, segundo a qual Jesus tinha duas naturezas: a humana
    e a divina. O monofisismo reconhece apenas a natureza divina de Jesus.
    Foi condenada no Concílio de Calcedônia, em 451. Atualmente é
    representado pela igreja Jacobita, da Síria, pela igreja Armênia e pela Copta, no Egito e na Etiópia.

    Sobre a origem do presépio: Segundo os relatos evangélicos, quando
    Jesus nasceu os pastores estavam no campo guardando seus rebanhos,
    durante a noite. Se considerarmos esse relato verdadeiro, Jesus não
    poderia ter nascido em dezembro. Isso porque, na Judeia, os pastores
    retiravam as ovelhas do campo em outubro, para protegê-las da chuva e
    do frio do inverno. Só retornavam no início da primavera, em abril ou
    maio. É verdade também que os dous evangelistas, Lucas e Mateus, responsáveis pelos relatos sobre o nascimento de Jesus não presenciaram
    as cenas que descrevem a sagrada família na manjedoura. Estudiosos dos Evangelhos observam que falar do nascimento do Filho de Deus, de sua
    origem e das condições em que nasceu era importante para fortalecer a
    fé das primeiras comunidades cristãs. Afinal, o Filho de Deus, como
    qualquer ser humano, havia nascido de uma mulher. Como uma grande
    personagem, tinha uma origem importante: descendia de David, um rei
    judeu sábio e famoso; e por falta de lugar nas hospedarias de Belém,
    José e Maria tinham-se abrigado em um estábulo, onde seu filho nasceu.
    Em 1223, um fato deu novo impulso à conceção do nascimento de Jesus:
    São Francisco de Assis organizou pela primeira vez a reconstituição da natividade de Cristo conforme a descrição contida nos evangelhos. Na
    igreja de Greccio, reproduziu o estábulo com a manjedoura onde Maria
    depositou seu filho. E como não poderia deixar de fazer, São Francisco colocou o boi e o burro ao lado do Menino Jesus, pois o Natal deveria
    ser a ocasião para todos se alegrarem. A partir daí, estabeleceu-se o
    costume popular de montar o presépio durante o período das festividades natalinas. Com o passar do tempo, os povos foram incorporando outras manifestações para festejar o nascimento do Menino Jesus. No Brasil,
    por herança dos evangelizadores e colonizadores, as pastorinhas e os
    reisados que, a cada ano, promovem danças e festas populares.

    Os presentes de Natal: Também segundo os Evangelhos, três reis magos, reconhecendo que Jesus havia nascido, foram até Belém levar-lhe
    oferendas, em sinal de reverência. Essa é uma das explicações que se costuma dar para um dos costumes mais tradicionais do Natal: a troca de presentes. Associada a esse hábito está a figura do Papai Noel: um
    velhinho bom que distribui presentes para as crianças. Este é um dos símbolos mais característicos das festividades natalinas, uma adaptação
    da figura de são Nicolau, sobre o qual correm muitas lendas. Sabe-se,
    no entanto, que ele viveu no século V e foi bispo de Mira. Conta-se que ele tinha o costume de, no dia 6 de dezembro, dar presentes às escondidas para crianças pobres e pessoas necessitadas. Segundo essa
    versão, vem daí o hábito de esconder os presentes, sobretudo das crianças.

    Um dos mais formosos livros sobre um tema de Natal foi escrito por
    Charles Dickens, e publicado em 1843 em Londres. Teve um enorme sucesso
    e muitas edições, ademais de numerosas versões a outros idiomas do
    mundo. Como é natural, também foi levado ao cinema por muitos
    realizadores, tendo a sua primeira versão cinematográfica em 1901, e
    muitas em desenhos animados. Sob o título original em inglês de A
    Chritsmas Carol, existem traduções com os títulos de Canção de Natal, Conto de Natal, Cântico de Natal, e mesmo poderia intitular-se
    Panjolinha do Natal. Da ampla filmografia existente baseada neste
    livro, escolhi aqueles filmes mais importantes em que intervêm atores,
    mas não filmes de desenhos animados ou musicais.

    FICHAS TÉCNICAS DOS FILMES:

    Um conto de Natal (A Chritsmas Carol).

       Diretor: Edwin L. Mann (EUA, 1938, 69 min., p. e b.). Produtoras:
    MGM e Loew´s.

    Roteiro: Hugo Butler, segundo o livro de Charles Dickens.

    Fotografia: Sidney Wagner e John F. Seitz. Música: Franz Waxman.

    Atores: Reginald Owen (Ebenezer Scrooge), Gene Lockhart (Bob Cratchit), Kathleen Lockhart (Sra Cratchit), Terry Kilburn (Pequeno Tim Cratchit),
    Barry Mackay (sobrinho de Scrooge), Ann Rutherford (espírito do Natal
    do passado), Ronald Sinclair (jovem Scrooge), Lionel Braham (espírito
    do Natal do presente), D´Arcy Corrigan (espírito do Natal do futuro) e
    outros muitos, dentro dum reparto muito amplo.

    Argumento: Ebenezer Scrooge é um homem avarento que não gosta do Natal. Trabalha num escritório em Londres com Bob Cratchit, seu pobre, mas
    feliz empregado, pai de quatro filhos, com um carinho especial pelo
    frágil Pequeno Tim, que tem problemas nas pernas. Numa véspera de Natal Scrooge recebe a visita de seu ex-sócio Jacob Marley, morto havia sete
    anos naquele mesmo dia. Marley diz que seu espírito não pode ter paz,
    já que não foi bom nem generoso em vida, mas que Scrooge tem uma
    chance, e por isso três espíritos o visitariam.

    Contos de Natal (Scrooge / A Chritsmas Carol).

       Diretor: Brian Desmond Hurst (Reino Unido, 1951, 86 min., p. e b.). Produtora: George Minter Prod.

    Roteiro: Noel Langley, segundo o livro de Charles Dickens.

    Fotografia: C. M. Pennington-Richards. Música: Richard Addinsell.

    Atores: Alastair Sim (Ebenezer Scrooge), Kathleen Harrison (Sra.
    Dilber), Mervyn Johns (Bob Cratchit),  Hermione Baddeley (Sra.
    Cratchit), Michael Hordem (Jacob Marley),  George Cole (Ebenezer
    Scrooge),  John Charlesworth (Peter Cratchit), Francis De Wolff
    (espírito do Natal do presente), Rona Anderson (Alice), Carol Marsh
    (Fan Scrooge), Brian Worth (Fred), Miles Malleson (velho Joe), Glyn
    Dearman (Tiny Tim), Michael Dolan (espírito do Natal do passado), Olga Edwardes (esposa de Fred), Roddy Hughes (Fezziwig), Hattie Jacques
    (Sra. Fezziwig), Eleanor Summerfield (Miss Flora), Louise Hampton
    (Laundress), Czeslaw Konarski (espírito do Natal do futuro), Eliot
    Makehan (Sr. Snedrig) e outros.

    Argumento: O avaro Ebenezer Scrooge sente animadversão pelo Natal e por
    tudo o relacionado com estas festas. Um dia recebe em sua casa a
    inesperada visita dum fantasma. Trata-se de seu amigo Jacob Marley que
    lhe anuncia qual vai ser seu futuro e, ademais adverte-lhe da visita de
    três fantasmas mais: o do Passado há de lembrar-lhe com nostalgia a sua infância e juventude, o do Presente amostrar-lhe-á como seu empregado
    Bob Cratchit, embora sendo pobre, pode celebrar com alegria o Natal, e
    o sombrio fantasma do Futuro ensinar-lhe-á como terminam os avaros como
    ele.

    Um conto de Natal (A Chritsmas Carol).

    Diretor: Clive Donner (Reino Unido, 1984, 100 min., cor, para TV).

    Roteiro: Roger O. Hirson, segundo o livro de Charles Dickens.

    Fotografia: Tony Imi. Música: Nick Bicât. Prodª: Co-Prod. RU-EUA, Entertainment Partners Ltd.

    Atores: George C. Scott (Ebenezer Scrooge), Frank Finlay (Jacob Marley), Angela Pleasence (fantasma do Natal passado), Edward Woodward (fantasma do Natal presente), Michael Carter (fantasma do Natal future), David Warner (Bob Cratchit), Susannah York (Sra.
    Cratchit), Roger Rees (Fred, o narrador), Anthony Walters (Tiny Tim), Caroline Langrishe (Janet Holiwell), Lucy Gutteridge (Belle) e
    outros.

    Argumento: Ebenezer Scrooge é um homem mesquinho e desalmado. O dia de
    Natal apresentam-se em sua casa os fantasmas do Natal passado, presente
    e futuro, que o obrigam a contemplar não só os erros que cometeu, como
    as consequências que a sua conduta vai ter no futuro. Essa visão muda o coração do velho Scrooge que vai tentar reparar todo o mal que fez
    antes de que seja demasiado tarde. O filme é uma adaptação do famoso
    conto de Dickens para a TV.

    Uma panjolinha do Natal / Conto de Natal (A Chritsmas Carol).

          Diretor: David Hugh Jones (EUA, 1999, 95 min., cor, para TV). Produtora: Hallmark Entertainment.

    Roteiro: Peter Barnes, segundo o livro de Charles Dickens.

    Fotografia: Ian Wilson. Música: Stephen Warbeck.

    Atores: Patrick Stewart (Ebenezer Scrooge), Richard E. Grant (Bob Cratchit), Joel Grey (Pantasma do Natal passado), Ian McNeice (Mr.
    Albert Fezziwig, Saskia Reeves (Sra. Cratchit), Desmond Barrit, Bernard Lloyd, Dominic West (Fred), Trevor Peacock, Liz Smith, Elizabeth Spriggs, Kenny Doughty e Laura Fraser (Belle).

    Argumento: Adaptação televisiva do clássico conto de Dickens. Durante
    um Natal, Ebenezer Scrooge, um miserável e mal-humorado ancião que não
    sente compaixão por nada nem por ninguém, recebe a visita de espíritos
    do passado, do presente e do futuro que pretendem comover seu coração
    para salvar a sua alma.

    Nota: Sem contar as versões musicais e de desenhos animados que existem
    deste conto, foram realizados outros filmes que resenhamos a seguir:
    Scrooge or Marley´s ghost (Diretor: Walter R. Booth, 1901); A Chritsmas
    Carol (versão muda de 1910); A Chritsmas Carol (Hugh Croise, 1928, 1ª
    versão falada); Leyenda de Navidad (Lenda de Natal), versão espanhola
    de 1947 dirigida por Manuel Tamayo; Los fantasmas atacan al jefe ou Los fantasmas contratacam (Scrooge, 1988, com Bill Murray de protagonista);
    A Chritsmas Carol (última versão, de 2009, dirigida  por Robert
    Zemeckisy).

    ?VERDADEIRO SENTIDO DA FESTA POPULAR DO NATAL:

    A influência do Cristianismo na modificação - e mesmo apropriação - das festas populares do ciclo anual, agás a do entruido, da qual nunca
    gostou, foi muito importante. Desde a pré-história, especialmente no
    seu período do neolítico, os seres humanos vinham celebrando
    festividades de homenagem à natureza e aos astros, a maioria
    coincidentes com os equinócios e os solstícios, que chegaram a
    configurar o famoso ciclo anual, seguindo o processo e o devir do
    tempo, das estações e da natureza. No livro em três volumes coordenado
    por Otero Pedraio, História de Galiza, publicado em B. Aires por Nós em
    1962, Vicente Risco analisa acertadamente os elementos essenciais das diferentes festas.

    José Manuel Barbosa, da AGAL e da AGLP, no seu interessante blogue
    «Desperta do teu sono», sob o título de «Sobrevivência da roda das festividades pagãs na Galiza», analisa muito bem o ciclo anual das
    festas, tomando como base o mencionado por Risco e outros autores. Do
    seu trabalho tiramos importantes treitos, com que coincidimos
    totalmente. Barbosa diz: «Nas culturas agrárias a celebração das
    estações era o normal, recebendo e santificando os ciclos naturais, a produtividade da terra e a mudança de atividades segundo a época.
    Igualmente o agradecimento à terra mãe e produtora fazia parte da vida quotidiana como uma forma de estar em harmonia com o que fornecia de
    alimentos e prosperidade à comunidade. Esta festividade conhecida por
    alguns povos da Europa como «Yule» não era alheia ao mundo celta e por consequente à Galiza. A celebração do nascimento da principal figura do Cristianismo liga diretamente com a tradição proto-europeia do
    nascimento do Sol e com toda uma série de rituais que tanto no tempo
    antigo como no atual reconhecemos com uma identidade comum que
    transcende os tempos. Assim, tanto a árvore de Natal, como as
    «Estreias» ou «Aguinaldo» (assim chamado em outros lugares da
    península), a recolha do visco ou do azevinho, como da figura paternal
    dum homem generoso e barrigudo, que vem para fazer presentes aos
    meninos, são herança dum passado nunca esquecido». A continuação
    explica Barbosa que a árvore de Natal é uma tradição bastante moderna,
    mas que em alguns lugares galegos e ourensanos existia a tradição
    familiar do denominado «Tição de Natal». Abundando sobre a árvore
    comenta o mito celta da árvore da vida, protagonista de muitas das celebrações e tradições da roda das estações dentro da cultura europeia em geral e céltica em especial. Nas comarcas de Rodeiro e o Arenteiro,
    Barbosa sinala que ainda continua o simbolismo de que no inverno as
    ponlas da árvore são as raízes, ao não ter folhas, e que na primavera voltam para a terra para que saiam as flores e os frutos.

    No importante blogue de Barbosa, que merece a pena ser lido na sua
    totalidade, continua a dizer-nos: «Outra tradição interessante ainda conservada até muito pouco tempo na Galiza rural é a das «Estreias»,
    nome que em outros lugares da península muda pelo de «aguinaldo». A sua origem pode ser comum com o famoso «Trick or Treat» da tradição
    samânica, pelo facto de ir pedindo pelas portas um presente». (...)
    Outra das práticas das que queremos fazer referência têm a ver com o
    visco (Viscum Album), e o azevinho (Ilex Canariensis). (...) Mas não
    podemos esquecer uma outra tradição que é a figura dum personagem que tradicionalmente vive na floresta e que por essas datas é que se achega
    às aldeias para trazer presentes às crianças. Esta figura parece ser
    comum a toda a cultura europeia conhecido como São Nicolau, Santa Klaus
    e mais modernamente como Pai Natal, popularizado pela influência norte-americana. Na Galiza esta personagem aparece com o nome de
    «Apalpador» ou «Pandigueiro». Ele é um carvoeiro ou lenhador que habita
    na espessura da floresta ao lado dos seus perelhos, seres feéricos que
    o ajudam no seu labor. Um destes perelhos sempre é o que se adianta
    para levar conta dos nenos que merecem o presente para quando vier o
    velho e barbudo personagem poder acertar à hora de presentear. Quando
    ele chegar sempre o faz quando as crianças dormem para poder apalpar as
    suas barriguinhas e saber se comeram ou não. No caso de estarem mal alimentados ele deixa uma presa de castanhas ao lado».

    RECUPERAR A FIGURA DO APALPADOR :

    Com autêntico acerto, em 2007, o coletivo «A Gentalha do Pichel», com o apoio posterior da AGAL, recuperou a tradição popular dos tempos do
    Natal, do chamado «apalpador» ou «pandigueiro». Previamente, os investigadores José André Lopes Gonçales e Carlos Calvo Varela
    resgataram do esquecimento esta figura do Natal propriamente galega, do
    qual Barbosa fala no seu blogue. O verinense Jesús Taboada Chivite, nos
    seus estudos sobre crenças e ritos galegos, fala da existência do
    ritual propiciatório de palpar a barriga das crianças na noite velha,
    também chamada por isto «noite do apalpadoiro». O «apalpador»,
    conhecido também pelo nome de «pandigueiro» na comarca de Póvoa de
    Trives, é, nas zonas orientais da Galiza, a figura mítica dum
    carvoeiro, que segundo a tradição, desce as noites de 24 a 31 de
    dezembro para apalpar a barriga das crianças para comprovar se comeram suficientemente durante o ano, deixando um montão de castanhas para os
    que encontrava fracos e, eventualmente, algum presente, desejando-lhes
    que tivessem um ano novo cheio de felicidade e comida. Mesmo existem
    alguns cantares dedicados às «noites do apalpadoiro» para avisar os
    meninos da chegada do «apalpador» e da necessidade de que se vão para a cama.

    Normalmente o «apalpador» era um homem grosso, grande e com barba,
    embora não seja nem Santa Klaus nem o Papá Noel (figuras importadas,
    que desgraçadamente, sem ser da nossa cultura, terminaram por impor-se
    durante bastantes anos). Tampouco tem que ver com os «Reis Magos»,
    embora estas figuras e elementos quase mágicos compartilhem um fim
    comum, que é o de alegrar os mais pequenos da casa. De alguma maneira,
    o «apalpador» é uma figura, que ademais de ser nossa, também cumpre
    esse objetivo. Vive na montanha, dedicado a fazer carvão. É como um
    gigante, com boina, casaco velho e remendado, alimenta-se de frutos
    silvestres, de carne de javarim que caça e fuma em cachimbo. Esta é
    mais ou menos a imagem que dele têm os mais velhos das comarcas do
    Courel, o Cebreiro, os Ancares e Lôuçara, que lembram as histórias que
    seus avós lhes contavam. «A Gentalha do Pichel» publicou sob o título
    de Teoria do inverno, um interessante livro em que aparecem testemunhos fantásticas sobre a figura do «apalpador». Uma velha de Ferramulim,
    chamada Fina, fala no livro de que na última noite do ano, quando agora
    se costuma comer as doze uvas, antes de ir para a cama, as pessoas que
    formavam a família, e em especial as crianças, comiam até fartar-se,
    porque diziam que, de noite, vinha o «apalpador» e se estavas cheio ou
    farto não passarias fame em todo o ano. Vinha a todos, meninos e
    meninas, e apalpava as barrigas, deixava castanhas e de alguma maneira
    eram «os reis» que tínhamos. A mesma «Gentalha do Pichel» recuperou em perto de 30 gravações, cantares, lendas, contos e narrações, a tradição do «apalpador», «apalpa-barrigas» ou «pandigueiro», nas comarcas orientais da Nossa Terra. As datas da saída desta figura eram 24, 28 e
    31 de dezembro (e mesmo em algum caso no entruido). Datas que, segundo
    Vicente Risco, se repetem em toda a faixa atlântica, para celebrações natalícias, tendo que ver muito com as celebrações pré-cristãs do solstício de inverno, que é quando o ano termina. Infelizmente, a
    figura nalguns lugares degenerou convertendo o «apalpador» no «homem do saco», e mesmo misturando-o com os «reis magos», que deixavam carvão às crianças que se portassem mal durante o ano. Degradando assim, por
    desgraça, o mito.

    Com acerto, «A Gentalha do Pichel», para recuperar a figura, nos
    últimos anos tem organizado a saída do «apalpador» nas datas do Natal
    pelas ruas de Compostela, Ferrol, Lugo, Ponte Areias, Silheda e S.
    Sadurninho. Com o digno objetivo de que as crianças conheçam esta
    tradição propriamente galega, evitar que desapareça, e que os adultos
    ajudem a recuperá-la. Recolhida em Romeor do Courel em 1994 existe esta
    linda copla: «Vai-te logo meu meninho (a), marcha agora prá caminha.
    Que vai vir o Apalpador apalpar-che a barriguinha. Já chegou o dia
    grande, dia do nosso Senhor: Já chegou o dia grande, e virá o
    Apalpador. Manhã é dia de cachela, que haverá gram nevarada e há vir o Apalpador c´uma mega de castanhas. Por aquela cemba, já vem relumbrando
    o senhor Apalpador, para dar-vos o aguinaldo».

    TEMAS PARA REFLETIR E REALIZAR:

    Servindo-se da técnica do Cinema-fórum, analisar e debater sobre a
    forma (linguagem cinematográfica: planos, contraplanos, panorâmicas, movimentos de câmara, jogo com o tempo e o espaço, truques
    cinematográficos, etc.) e o fundo dos quatro filmes antes resenhados.

    Com colaborações dos estudantes (desenhos, poemas, aforismos, textos
    livres, lendas, contos, etc.) organizamos nos estabelecimentos de
    ensino uma amostra sobre a festa popular do Natal, a sua história e a
    sua origem, recuperando os autênticos símbolos galegos da festa. Na
    mesma podemos incluir fotos e resenhas da imprensa. E podemos também
    elaborar uma monografia segundo a técnica Freinet da Biblioteca do
    Trabalho, para depois policopiá-la. Podemos organizar também um
    festival de panjolinhas, recuperando aquelas que são mais galegas, e
    também as portuguesas.

    Depois de ler todos o Conto de Natal escrito por Dickens e editado na
    nossa língua, organizamos sobre ele um Livro-fórum. Podemos tirar
    ademais, com um debate-papo, conclusões sobre a festa popular do Natal,
    e de como podemos recuperar os seus autênticos elementos e os seus
    valores sociais e humanos. Agora que, por desgraça, tão deturpada está,
    e tão comercializada.

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    Eduardo
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