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    From JEMM@21:1/5 to All on Tue Nov 1 23:40:40 2016
    Segundo umha embaçada lembrança lisboeta, foi lendo um livro a caminho
    do trabalho, num comboio da linha Santa Apolónia-Castanheira do
    Ribatejo, que fiquei sabendo da fama de desconfiado e indeciso do povo
    mineiro.

    Na hora, achei bem engraçada essa coincidência galego-mineira de sermos considerados povos receosos e hesitantes.

    Pouco depois, recordo-me que sorri quando descobrim num Pingo Doce,
    popular supermercado português, que a couve mineira era conhecida em
    Portugal como couve galega. Também me lembrei de que tanto a culinária mineira quanto a galega eram muito conceituadas e apreciadas.

    Quando aprendim que Minas Gerais (MG) era um território rural, com umha populaçom muito espalhada, que tinha proporcionalmente o maior número
    de municípios do país, com umha importante massa florestal de
    monocultura de eucalipto e era o principal produtor de leite do Brasil
    nom pudem deixar de continuar a fazer comparaçons.

    A seguir, alguém me falou da política do café com leite. Assim batizada porque durante a República Velha, quer dizer, a 1ª República no Brasil,
    o poder era revezado entre a oligarquia paulista, produtora de café, e
    a mineira, produtora de leite. Um vasto número de presidentes
    brasileiros até hoje fôrom mineiros: Afonso Pena, Venceslau Brás,
    Delfim Moreira, Arthur Bernardes, Juscelino Kubitschek ou a última
    presidenta legítima do Brasil, Dilma Rouseff, vítima de um recente
    golpe de Estado.

    Tentei fazer mais umha associaçom e cismei naquilo que diziam de que a
    guerra civil espanhola fora cousa de dous galegos, um da Corunha,
    Casares Quiroga, -melhor Queiroga- presidente da República, e outro de
    Ferrol, Francisco Franco, militar golpista. Pensei em Portela Valadares
    e mesmo no atual presidente do governo espanhol, Mariano Rajoi. Até
    reparei num dado curioso, os dous principais partidos da Espanha, o
    PSOE  e o Partido Popular, tinham sido fundados por galegos, Pablo
    Iglésias e Manuel Fraga. Eis o nosso particular café com leite.

    Minas Gerais é também viçoso celeiro literário. Clássicos da literatura brasileira Guimarães Rosa, Drummond de Andrade, Darcy Ribeiro mas
    também contemporáneos, Rubem Fonseca, Ciro dos Anjos, Luiz Ruffato,
    Marcos Bagno tenhem em MG o seu berço. Martim Codax, Rosália de Castro, Curros Henriques, Pardo Bazán, Valle Inclám, Cunqueiro, Manuel Rivas ou
    Suso de Toro, som alguns dos principais escritores da literatura galego-portuguesa, galega e espanhola nascidos na Galiza. A Galiza é,
    aliás, dos poucos povos da península que tem um Prémio Nobel de
    literatura, Camilo José Cela. Catalisador da riqueza literária de ambos
    os povos, o multifacetado intelectual Paz Andrade escreveu A galecidade
    na obra de Guimarães Rosa.

    Mas as semelhanças nom ficavam por aqui. Assim que ouvim "arreda um
    pouquim" acabei por me convencer da necessidade de escrever este
    artigo.

    Em Minas som corriqueiros os usos do verbo arredar, tam do gosto dos
    nossos galeguistas arredistas, e do sufixo -im no lugar de -inho,
    típico das falas do leste da Galiza, muito próximo para mim, cuja
    estirpe materna é do lugar de Lamas no concelho de Baralha, comarca dos Ancares. Ainda tivem tempo de ouvir com freqüência "vou ir" para
    surpresa de puristas que confundem língua portuguesa com língua-padrom.

    Por último, nom queria deixar de chamar a atençom de o melhor
    cartunista galego, Miguelanxo Prado, ter dedicado um livro à capital de
    Minas Gerais, Belo Horizonte, nem esquecer que um dos melhores
    fotógrafos do mundo, o mineiro Sebastião Salgado, fotografou as
    mariscadoras das rias galegas no seu álbum Trabalhadores.

    Artigo originalmente publicado no Diário Liberdade

    About Latest Posts Francisco Manuel Paradelo RodriguesFrancisco Manuel
    Paradelo Rodrigues, "Xico" Nasceu em Ourense (1966).
    Autor e dinamizador de banda desenhada, iniciou o seu trabalho neste
    âmbito com o reconhecido coletivo Frente Comixário em 1989. Desde
    aquela participou na organização das Xornadas de Banda Deseñada de
    Ourense ou no I Encontro de Debuxantes Galegos entre outras
    iniciativas.
    Fundador da publicação BD Banda, é também um dos autores da guia
    didática e mais das exposições As bases da banda, e As Cantigas de
    Santa Maria, arte BDieval, que compilam propostas didáticas arredor da
    banda desenhada. Militante da cultura e ativista também do humor
    gráfico, é um dos fundadores do colectivo PESTINHO, autores da História
    da Língua em Banda Desenhada, em colaboração com o Grupo
    Reintegracionista Meendinho. Tem colaborado em diferentes publicações
    de humor e BD, tais como XO, O Pasquim, ou Retranca. Também foi e é
    membro de diferentes movimentos sociais e culturais, como A Gente da
    Barreira ou a Coordenadora Galega de Roteiros, sendo um dos fundadores
    do Movimento Defesa da Língua, da Academia Galega da Língua Portuguesa
    e do Partido da Terra. Trabalha como professor de ensino primário num
    centro do rural de Ourense. Latest posts by Francisco Manuel Paradelo Rodrigues (see all) Enquanto houver força… - 28 de Outubro de
    2016

    O post Mineiros e galegos, trem bão! aparece primeiro no Portal Galego
    da Língua - PGL.gal.

    http://pgl.gal/mineiros-galegos-trem-bao/

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    Eduardo
    www.alt119.net

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